495450580893305 Chapa: uma profissão de riscos
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Chapa: uma profissão de riscos


Por Bianca Santos (Texto) e Adilson Santos (Vídeo)

Quem passa pela BR 116, entre os municípios de Campina Grande do Sul e Quatro Barras já pôde observar homens ao lado de pequenas placas, pedras ou paredes com os dizeres “CHAPA”, geralmente escritos a mão. Figuras presentes nas rodovias, estes homens, normalmente com roupas simples e mãos calejadas podem ser encontrados em diversos pontos da região. Vistos como braço direito dos caminhoneiros, o trabalho dos chapas é servir de guia a motoristas e ajudar na descarga. Ao lado das placas buscam chamar a atenção de caminhoneiros que chegam de todo o Brasil.

Um trabalho que exige esforço e paciência, é assim que Jeremias Fernando da Silva, 47 anos, define esta profissão. Ele que trabalha como chapa há 20 anos conta que este é um trabalho imprevisível, pois muitas vezes não sabe quanto vai faturar no dia, e nem o horário que algum caminhão vai solicitar o seu serviço. “Todos os dias pego o ônibus as 4:50, e as 5:20 já estou no ponto. Se levo sorte, ainda no período da manhã já consigo arrumar algo, mas quando o movimento está fraco fico até 21 horas, e também domingos e feriados”, afirma. Pai de duas filhas, uma de 25 e outra de apenas três anos, Silva diz que o importante é conseguir levar o sustento para casa todos dias. “Sempre saio de casa pensando em conseguir um bom dinheiro para comprar o leite da minha pequena”, comenta.

Trabalhar como chapa também tem os seus riscos. Para Orasil Biajone dos Reis, morador do bairro Jardim Paulista, que trabalha como chapa há 18 anos, o perigo que vem das estradas e principalmente assaltos são fatores que ele mais teme. “Já fui assaltado duas vezes, perseguiram o caminhão em que eu estava com o motorista para roubar a carga, as duas vezes foram muito assustadoras e é o que mais tenho medo trabalhando como chapa”, lembra Orasil, que tem quatro filhos.

Segundo os entrevistados, em tempos de bom movimento, como os últimos três meses do ano os “chapas” chegam a faturar até R$ 2 mil por mês. “Nesse período o movimento é mais fraco, porque muitos caminhoneiros estão em férias, mas depois do carnaval esperamos que o movimento cresça novamente”, afirma esperançoso Isaías Pereira de Souza. Ele que trabalha há 12 anos nesta profissão chega todos os dias às 5 horas e relata que apesar do sacrifício que faz todos os dias, ainda vale mais a pena comparado a um trabalho registrado em empresa. “Consigo tirar a base de R$100 a 150 reais por dia. Em uma empresa eu tiraria de R$25 a R$30 reais no dia. O que ganho já aplico direto em casa, não preciso esperar o mês inteiro para receber”, pontua.

Já Edson Rodrigues de Souza, 24 anos, tem uma dupla função: trabalha há um ano no período da manhã como chapa e durante a tarde em uma empresa na região. Ele declara que nunca pensou em deixar o trabalho fixo para se dedicar somente ao de chapa. “Não troco o certo pelo duvidoso. Na empresa eu sei que vou ter o dinheiro fixo todo mês, já como chapa isso não acontece. E para mim é tranquilo lidar com as duas funções”, relata.

Apesar de ser uma prática muito comum na BR 116 e em outras estradas brasileiras, a profissão que ainda não é regulamentada pelos órgãos trabalhistas competentes e os diversos profissionais que trabalham como chapas ainda destacam que sofrem muito preconceito por parte das pessoas. “Elas desconhecem nosso trabalho, pensam que somos marginais. Mas estão enaganadas, pois somos trabalhadores como todo mundo. Trabalho pesado, as vezes até pendurado na mercadoria para conseguir o dinheiro para levar para casa e as pessoas ainda nos criticam”, desabafa Orasil.

Todos sonham com o dia que a profissão será regularizada e quem sabe assim as pessoas respeitem mais os chapas, homens que como a maior parte dos brasileiros, levantam cedo, saem de casa antes mesmo do amanhecer em busca de dinheiro e uma vida melhor para as suas famílias.

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