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Estrada da Graciosa: 150 anos de protagonismo no setor socioeconômico paranaense
Apontada como uma das estradas mais bonitas do Brasil, a Estrada da Graciosa completa 150 anos em 2023. O local, que foi inaugurado em 1873, guarda importantes registros da história paranaense, tendo um papel fundamental no desenvolvimento da economia estadual, além disso, a estrada, que atrai milhares de turistas, recebeu em 1992 pela UNESCO o título de Reserva da Biosfera da Mata Atlântica.
Por tamanha importância, a região que tem seu caminho original acessado através do município de Quatro Barras já ganhou destaque diversas vezes nos noticiários locais, sendo também objeto de estudo de pesquisadores que se empenham em analisar mais afundo todo o contexto que envolve a Rodovia PR-410 (Estrada da Graciosa) até os dias de hoje.
A professora de história, Vanderleia Canha, dedicou alguns anos da vida acadêmica para fazer um estudo mais detalhado sobre a antiga rota imperial em direção ao litoral do Estado, que liga o município de Quatro Barras às cidades de Antonina e Morretes. Durante o mestrado, ela escreveu a dissertação “História local e ensino de História: roteiro da Estrada da Graciosa”, na qual apresentou todo o panorama do porquê este local se tornou protagonista no desenvolvimento do setor socioeconômico paranaense.
E para comemorar os 150 anos da região, bem como entender mais sobre a história da Estrada da Graciosa, a reportagem do Linkada News fez uma entrevista ping-pong com Vanderleia Canha. Confira a seguir:
Quais foram os fatos históricos que mais marcaram a história da Estrada da Graciosa durante esses 150 anos?
Vanderleia - A Estrada da Graciosa tem sua origem enquanto caminho usado por indígenas e colonizadores e remonta ao século XVII e sua transformação em estrada carroçável foi desejada e comemorada como um marco para a Província do Paraná, criada em 1853. A construção da Estrada que ligava Curitiba ao Litoral foi iniciada no ano seguinte, 1854 e foi concluída em 1873. A realização dessa obra mobilizou políticos, engenheiros, administradores e inúmeros trabalhadores: livres e escravizados.
Entre os engenheiros, destaca-se Antônio Rebouças, engenheiro negro, amigo de D. Pedro II, que foi designado pelo governo imperial em 1864 para trabalhar na construção da Estrada Graciosa. A nomeação de Rebouças se deu por uma série de dificuldades encontradas no desenvolvimento da obra, iniciada dez anos antes. Seu trabalho na Graciosa foi interrompido pelo início da Guerra do Paraguai. Anos depois, em 1872, constituiu ás margens da Estrada a Companhia Florestal Paranaense, uma madeireira de grande porte, que adquiriu pinheirais e organizou uma serraria a vapor, a primeira do Paraná. A empresa por uma série de motivos entrou em falência poucos anos depois.
A passagem de Dom Pedro II e de sua comitiva pela Estrada da Graciosa em 1880, quando visitava a Província do Paraná, foi acompanhada por jornalistas que produziram relatos interessantes sobre a Estrada e sobre o pernoite de Dom Pedro no Rio do Meio.
Até a construção da Estrada de Ferro Curitiba- Paranaguá, em 1885 era pela Estrada da Graciosa que se fazia o transporte de produtos e passageiros para as cidades do litoral paranaenses, depois disso a Estrada perdeu parte de sua importância econômica.
Com a chegada dos automóveis e depois dos caminhões no Paraná, no início do século XX, a Estrada da Graciosa passou por um momento de renovação, foi reformada, as pontes fortificadas e placas de sinalização de trânsito foram implantadas. As vias de ligação entre Curitiba e o Litoral passaram a ter, além da função de escoamento da produção, a função turística, sendo a própria Estrada, atrativo turístico por conta de sua história.
Em março de 1969, foi inaugurada a rodovia BR-277, totalmente asfaltada, iniciando em Foz do Iguaçu, até o porto de Paranaguá. Assim, a Estrada da Graciosa deixou de ser a única que ligava o Planalto Curitibano ao Litoral. Por falta de manutenção, a Estrada da Graciosa passou a ser pouco utilizada. Em 1977, quando da comemoração dos 144 anos de emancipação do Paraná, a Estrada recebeu reformas e foi criado o parque Turístico da Graciosa. No trecho de subida da Serra do Mar foram executadas obras pelo Departamento de Estradas e Rodagens, assim, foram remodeladas algumas áreas de lazer já existentes ao longo do deste trecho da rodovia, além de paisagismo e sinalização, e de equipamentos de lazer como quiosques, estacionamento e sanitários.
Com tanta riqueza natural, podemos dizer que hoje essa Estrada é realmente preservada da devida forma? Se não, quais as medidas seriam mais viáveis para manter a história que esse local traz consigo?
Vanderleia - Quanto à questão da preservação ambiental e de manutenção da infraestrutura (engenharia), não posso opinar, pois não tenho o conhecimento específico. Acredito que a população precisa conhecer melhor a História da Estrada da Graciosa, pois assim vão e valorizar e buscar preservar.
As autoridades responsáveis podem promover ações para divulgar a História deste patrimônio e organizar um programa de monitoramento para prevenir possíveis desastres e promover reparos que evitem prejuízos maiores.
Elencando os pontos turísticos da Estrada, quais seriam aqueles que, apesar de revitalizações, ainda guardam marcas do passado no sentido de estrutura mesmo e podem chamar mais a atenção do público?
Vanderleia - Nos limites do município de Quatro Barras, temos a Colônia Maria José, que foi uma colônia de imigrantes italianos constituída pelo Presidente da Província do Paraná na época Dr Joaquim de Almeira Faria Sobrinho, o Monumento em homenagem a passagem de D. Pedro II na Estrada da Graciosa, a Capela do Anjo da Guarda, as Igrejas de Campininha e do Rio do Meio, o Trecho Original ou Caminho dos Jesuítas e a Casa de Pedra.
Nos últimos meses tivemos o deslizamento na Graciosa devido às fortes chuvas e o local está passando por diversas obras. Qual o impacto desses desastres para uma estrada que é considerada uma das mais importantes do Brasil?
Vanderleia - A Estrada da Graciosa corta a Serra do Mar, o clima e a geografia do lugar são desafiadores, no discurso de inauguração da Estrada feito pelo vice- presidente da Província, Coronel Manuel Antônio Guimaraes, a dificuldade sua manutenção já era citada. Como se trata de um patrimônio, a reconstrução dos trechos atingidos pelas chuvas e deslizamentos precisa manter as características históricas e a beleza do lugar.
Além das questões históricas e também turísticas, quais outros motivos pelos quais a Estrada da Graciosa se tornou um local tão importante para a região do Paraná?
Vanderleia - A Estrada da Graciosa teve grande importância econômica, foi a primeira estrada carroçável que ligava o Planalto ao Litoral, até a inauguração da Ferrovia ligando Curitiba- Paranaguá, o transporte de produtos e passageiros para os portos de Antonina e Paranaguá eram realizados pela Graciosa. A produção e beneficiamento da erva- mate, por exemplo, passou a ser realizada, Serra acima. Além disso, povoados e colônias de imigrantes foram constituídos nas proximidades da Estrada. Hoje são bairros de Curitiba e municípios da Região Metropolitana de Curitiba, tais como o bairro Bacacheri e o município de Quatro Barras.
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